Era bem pequeninha e com os olhos pretos enormes, querendo alcançar o mundo, atravessando nossos corpos com a exatidão de lâminas de vida.
Era a primeira que eu viajava para fora do país, chegava à França sem saber sua língua, sem entender o que me perguntava e era tão simples o que queria saber. "Mamãe, ele dança?", questinava a menina de 3 anos, de cabelos e olhos pretos enormes. Com a afirmativa da mãe, ela saiu da sala com carinha de criança esperta e voltou logo depois com um radinho pequeno tocando uma música, colocou em cima da mesa e pôs os bracinhos para trás, sem sair do lugar, balançando os ombros como uma valsa e em silêncio. Seu olhar pedia que eu mostrasse minha dança.
Não dancei naquele momento, mas Louise já viu muitas das minhas danças compartilhadas com seus tios, com sua mãe, com ela mesma. Por Louise sinto um amor indescritível e meus olhos marejam todos as vezes em que me detenho em pensamentos de saudade dela. Desejo que sua vida seja doce e que não sofra. Que o ar seja generoso com ela e não lhe falte. Que eu não chore nunca mais por causa dela que é toda alegria e vida e inteligência, sensibilidade e maturidade no alto de seus 10 ou 11anos.
A última cena de Odete, traga meus mortos, trabalho meu com Lucas Valenteim, valsamos para Louise.
A música "J'envoie valser" da cantora francesa Zazie, cantada por Jeanne Jaubert, prima de Louise, é a trilha para esta valsa. e é linda!
"Eu gosto quando você me dá jóias e coloca no meu pescoço, eu não me importo se você envia valsas e quando você me abraça forte é como um tesouro. Isso vale ouro" (tradução das mais grotescas feita por mim mesmo)
foto de Gabriel Guerra
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