sexta-feira, 29 de abril de 2011

O bicho velho

Vejo-me no espelho e reconheço-me envelhecido. Talvez seja aquela alegria perdida em alguma carta sem resposta, aquela canção, aquela rua...

Pelos brancos, rugas, calvície precoce, olhar oblíquo, lábios diminuindo... nada condiz com os anos que o calendario acusa. Confirmo isso e acho tão bela a passagem do tempo.

Nunca acreditei em aniversário, sempre soube que aquilo não me representava verdadeiramente. Festejo a vida e as experiências dessa trajetória.

Os bichos não sabem cantar Parabéns e assim passam pela vida.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sabores de Londres - 1° capítulo. O Suvaco do Galeto

A noticia de que eu ficaria numa casa em Londres, alugada para os três brasileiros que vieram a trabalho (eu sou um deles), me deixou alegre pelo conforto, pela liberdade, pelo sentimento de lar, mas ao mesmo tempo fiquei apreensivo porque não sei cozinhar nada, nem ovo frito. Sim, acerto fritar um ovo, mas isso não significa saber fazer, não sei dosar a manteiga, muito menos o sal. Explicado o não saber?

Pois bem, pedi a todo mundo que encontrava alguma receita fácil para fazer aqui, também que não tivesse alguns ingredientes proibidos pelos divertículos (ainda tem esse detalhe das restrições alimentares). Nada com caldo knorr, nada de condimentos, pimenta, semente de tomate, molhos prontos, cebola e alho. Cebola e alho não são restrições médicas, mas é que não suporto o cheiro e não conzinharei com esses infames nunca. Só me restou assar carne com sal e alecrim, purê de batata, omelete de queijo e presunto.... e.... só. Sabendo as delícias que seriam criadas na viagem, decidi fazer um relato gastronômico, com dicas fáceis e úteis para viajantes despreparados como eu. Surgiu assim a idéia da série "Sabores de Londres"

Meus vizinhos de quarto acertam cozinhar. Fomos ontem ao supermercado fazer as compras e na volta para casa teríamos a nossa primeira refeição. Arroz, salada e.... galeto assado, comprado lá no mercado mesmo.

O chef Daniel fez o arroz que segundo a chef Mickaella "tirando todo o resto, tinha acertado o sal". Isso porque era um unidos venceremos e salgado para matar um cardíaco, embora ela também dissesse que "uNidos venceremos não, tá solTinho". Coloquem a lingua entre os dentes para falarem o N e T. Ela tem aquele sotaque carregado dos nordestinos.

Chegada a hora do frango pronto, vimos que estava mal assado. Então chegou a hora do chef Edu fritar a carne da ave. A dona Mickaella se ofereceu para desfiar o bichinho, tira daqui, raspa dali, arranca asa acolá e ela me sai com a pérola "a minha de ouro é SUVACO DO GALETO, minha genTe!". Pronto, estava batizado o primeiro prato da residência brasileira em Londres. Lá vai a receita:

SUVACO DO GALETO

Ingredientes
- Galeto pronto, mas nem tanto (aqueles pelos quais os cachorros se apaixonam)
- Manteiga
- Arroz unidos venceremos
- Tomate
- Queijo

Modo de fazer
Desfia todo o galeto, principalmente a parte embaixo das asas, coloca numa frigideira com manteiga e frita até ficar douradinho. O galeto não deve vir bem assado, assim não tem graça fritar. Na hora de comer você mistura com o arroz feito no almoço, pega uma metade de tomate sem semente e coloca junto. Para dar um toque fino ao prato, acrescenta pedacinhos de queijo.

Experimentem e me digam se não fica uma delícia.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

As cores do mundo

Chegado em Londres... Terceira vez nessa cidade linda, cheia de diversidade e coisas a descobrir. Taí, me sinto em casa, fico feliz em estar aqui. A língua seria um problema, mas tenho meu tradutor/amigo e tenho me saído bem na compreensão e nas tentativas de diálogos sem interlocutor. Lógico que não dá para desenvolver raciocínios profundos e também falar coisas muito subjetivas que não possam contar com ajuda das caretas, gestos, desenhos.

Adoro estar com o pessoal do Candoco, me recebem sempre com tanta alegria e carinho, além de ser uma equipe do mais alto nível profissional e com quem aprendo diariamente.

Desta vez estamos hospedados numa casa alugada só pra nós, eu, Daniel e Mickaella, num bairro cheio de restaurantes de vários países: Sri Lanka, Nepal, Turquia, Senegal... é um bairro de imigrantes, então ouvimos sons diversos, vemos vestimentas diferentes, peles, olhos.... acho ótimo estar em meio a diversidade de gente, coisas, sabores e gostos. Viajar para mim é isto, uma oportunidade de ver as inúmeras cores da cartela do mundo. Não somos obrigados a gostar, talvez apenas uma ou duas satisfaça alguém, mas o ideal é conhecer, daí se escolhe o que quiser, o tom que melhor lhe cair.

O sol tem brilhado muito e o céu de um azul infinito!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Fulni-ô

Em Setembro do ano passado entrevistei dona Avani no Encontro da Diversidade Cultural, promovido pelo MINC. Lá tivemos contato com pessoas de várias culturas, diversas experiências e estilos de vida. Quando vi o grupo dos indígenas, fiquei louco para entrevistá-los. Sempre tive uma relação forte com a cultura indígena e sua forma de viver, mais tarde, um pouco mais consciente, me perturbei com a dizimação que sofreram, com o desrespeito ao seu território, a suas vidas e o sofrimento que os acompanha até hoje.

Como n espetáculo O Corpo Perturbador falamos muito sobre Corpo/Território, achei pertinente trazer a fala de algum representante desse povo, nosso povo, nós, que fala também sofre o preconceito sofrido pelos não-aldeados, dentro da própria comunidade e de como o branco ainda os perturbam.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sejamos Gays. Juntos.

abril 12, 2011

Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Itarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.

Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.

Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.

E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.

Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.
Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?
Quero então compartilhar essa ideia com todos.
Sejamos gays.

Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY

Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:
1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY
2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com
3) E só :-)

Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.

A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.

Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.
As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.

Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.

— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

Texto retirado do blog: http://projetoeusougay.wordpress.com/

Completando com outro texto do blog:

Este não é um projeto apenas contra a homofobia, é um projeto contra a intolerância, contra o ódio. Não podemos, não devemos e não vamos viver nesse ambiente. Portanto, lá vai:
Eu sou gay, eu sou negro, eu sou nordestino, eu sou criança vulnerável, eu sou mulher vítima de violência doméstica, eu sou gordo, eu sou faminto, eu sou vítima do trânsito, eu não ando armado.
Eu sou aquele que diz basta a essa falta de compaixão e de respeito ao próximo. Eu sou pela paz. Eu sou a favor de um mundo melhor. Este é o movimento que começamos agora. Eu, você, nós brasileiros que acreditamos na força da opinião pública e das redes sociais para combater a intolerância contra a diferença e contra as minorias.
 
 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Estréia

Amanhã estréia Pequetitas Coisas Entre Nós Mesmos,
no Cine Teatro Solar Boa Vista, 20h.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Eu rasgarei os papéis caso você não chegue

Passei a madrugada desenhando a carvão em papel timbrado de amor. Mapas para nossos encontros, caminhos de teu corpo, teu rosto, corações flechados voando em metrópoles e flores em asfaltos verdes como em Rio de Contas. Foi pensando em você que o dia amanhaceu em tons de cinza claro e depois azulejou dourado de sol.

Neste dia tenebroso que esconde um infinito futuro escuro além desse turquesa, escrevi em papel de boca teu nome, telefone, endereço, email.... coloquei teu peso, idade, estatura... nacionalidade, livro preferido, alergias e canções. Rabisquei flores de bem-me-quer, bem-me-quer, bem-me-quer......

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sorria, você está na Bahia

A Bahia é pelo segundo ano consecutivo o estado com maior número de assassinatos de gays, lésbicas e travestis, segundo relatório anual divulgado nesta segunda-feira (4) pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). No relatório, o GGB também entrega o troféu "Pau de Sebo" ao deputado Jair Bolsonaro (PP), "considerando que sua cruzada antigay estimula a prática de crimes homofóbicos".
Em todo o Brasil, 260 assassinatos de gays, lésbicas e travestis foram registrados - 62 mortes a mais do que 2009. Na Bahia, foram 29 homicídios. Com 43% dos casos, o Nordeste é a região que tem mais homicídios de homossexuais e travestis. Levando em conta o número da população, Alagoas é o estado com maior número de morte de homossexuais e travestis por habitantes.
Considerando as capitais, Maceió é a que tem o maior número de gays assassinados - 9 homicídios; em Salvador foram 8, 7 no Rio de Janeiro e 3 mortes em São Paulo.
Segundo dados do GGB, 43% dos homicídios foram a tiros, 27% a facadas, 18% por espancamento e 17% por sufocamneto ou enforcado. O grupo ainda comparou os dados do Brasil com os coletados nos EUA, onde são registrados 14 assassinatos de travestis em 2010 - no Brasil foram 110. De acordo com o grupo, o risco de um homossexual ser assassinado no Brasil é 785% maior que nos EUA.
 
Fonte: http://aguilho-tina.blogspot.com/2011/04/bahia-e-terra-da-homofobia.html


Possibilidades de menos (da série emails de amor)

05/09/2006

Tenho chorado vendo televisão. ontem assisti a um documentário sobre as mulheres de presos. uma coisa linda!!! forte. vendo o sofrimento daquelas mulheres, uma criança indo ver o pai ao lado da avó, bebês junto às mães dormindo em marquises esperando a hora de entrar para poderem ficar mais tempo ao lado dos seus pais e homens... enfim... uma falou sobre a impossibilidade do exercicio do amor, da falta q sente da zoada de chave abrindo a porta, da certeza da chegada... eu tenho sentido isso. eu te amo demais para contato de menos. eu preciso demais para possibilidades de menos... tenho me doído muito.

Hoje comecei a fazer Judite. Será muito doloroso. busquei falar de algo que é demasiadamente dolorido, doloroso. vou mexer em emoções profundas e negativas. vou ter que lidar com meus fantasmas adormecidos. por favor, venha me dar colo. venha trazer teu olhar, teu riso. não demore. e por favor, não venha só por Judite, venha por mim. venha porque vc quer me ver, venha porque sente saudade. preciso sentir isso, se não não vale a pena. hoje chorei vendo a destruição do rio de janeiro antigo em detrimento ao progresso, à modernidade. tudo isso é morte, é lidar com o descartavel, com o substituivel... odeio a idéia disso. odeio sentir-me isso.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Muito tempo (dá série emails de amor)

Sorrio, então. E quase paro de sentir essa coisa ruim chamada saudade, pq por instantes te senti aqui comigo e tão real e tão meu q se não fosse a lágrima, eu não teria acordado. Texto lido. Texto lindo,  o "descer do ônibus e correr a cidade atrás de um certo carro branco". Meu amor, como vc me faz bem! Que o tempo passe voando para te ver novamente, assim como passou quando você estava comigo.

"Uma noite sem você é muito tempo e uma vida com você é muito pouco". Nossa Rita Ribeiro.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Grandes coisas


Pequenas grandes memórias elásticas. Um tempo sem passado-passado ou futuro que ainda se anuncia. Tudo no presente agora. Instante. Aliás, há o passado que nos acompanha. Há toda presença mesmo que a distância...

Braços loooooonnnnnngos que alcançam pernas que se vão loooooooonnnnnnnggggggeeeeeeeeeee, mas tão longe que torna a chegar na volta do mundo. Um varal de pequetitas coisa. Grandes coisas!