terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para Luli

Luli é uma amiga que ganhei de presente aqui no Monólogos, um nó dessa grande rede que construímos com os e-amigos da blogsfera. Temos tanta coisa em comum que as vezes escrevemos, no mesmo dia, coisas semelhantes em nossos blogs e parece que choramos ou sorrimos juntos. Se já era uma delícia ter a companhia de Luli nas minhas madrugadas virtuais, foi melhor ainda conhecê-la pessoalmente, primeiro nas minhas apresentações depois numa farrinha boa que fizemos. Ela me prestigia desde Tempête e conheceu Odete e Judite. E me escreve coisas lindas e publica video para me inspirar e agora ela me presenteou com um microconto surpreendente que publiquei lá n'O Corpo Perturbador.

O Adeus escrito por Luli Facciolla aqui  http://ocorpoperturbador.blogspot.com/

Confiram!

Aos e-amigos, desculpem a minha ausência, mas não estou tendo tempo de parar e ler seus blogs com a atenção que vocês merecem. Juro que volto para me atualizar, mas estou louco com o 1º Encontro de Dança Inclusiva.O que é isso? http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

domingo, 29 de agosto de 2010

Judite com audiodescrição

Estou tão feliz com o retorno de Judite, porque dessa vez o espetáculo será apresentado com audiodescrição, realizada pela Profa. Dra. Eliana Franco, do Grupo Tramad.

O TRAMAD (Tradução, Mídia e Áudiodescrição) é um grupo de pesquisa da UFBA, e o primeiro no Brasil, a se dedicar ao estudo sistemático e implementação da acessibilidade audiovisual para cidadãos deficientes visuais através da audiodescrição, uma modalidade de tradução audiovisual. O grupo é coordenado pela Profa. Dra. Eliana Franco (especialista em tradução audiovisual), vice-coordenado pela Me. Sandra de Farias e conta com a participação de outros pesquisadores da UFBA.


A audiodescrição é um recurso de tecnologia assistiva que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual junto ao público de produtos audiovisuais. O recurso consiste na tradução de imagens em palavras. É, portanto, também definido como um modo de tradução audiovisual intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal. Essa transposição caracteriza-se pela descrição objetiva de imagens que, paralelamente e em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral da narrativa audiovisual. Como o próprio nome diz, um conteúdo audiovisual é formado pelo som e pela imagem, que se completam. A audiodescrição vem então preencher uma lacuna para o público deficiente visual.

Saiba mais sobre audiodescrição: http://audiodescricaobrasil.blogspot.com/



A apresentação acontecerá no dia 10/09, as 19h, no foyer de entrada da Biblioteca Pública dos Barris.


“Judite quer chorar, mas não consegue! foi idealizado pelo dançarino e ator Edu O., e narra através da dança a história da lagarta Judite, que amedrontada diante das transformações naturais da vida, hesita (e evita) em seguir o percurso da sua condição existencial e não quer se tornar uma borboleta. Este espetáculo singra as zonas de silêncio onde residem as emoções humanas, fazendo-nos refletir sobre nós enquanto indivíduos na vida, no mundo, sob o impacto da inexorável solidão que nos atormenta e apavora.

Edu O. mostra reluzente talento ao ocupar os palcos em que se apresenta, ressignificando a idéia da dança, usando seu corpo, de modo sensível e delicado, e vencendo a equívoca visão de que um cadeirante, assim como ele, não pode dançar.”

Marlon Marcos

PS - Ainda restam poucas vagas para as inscrições do curso de audiodescrição dentro da programação do 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?

Inscreva-se logo! http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

Fotos de Gustavo Porto

sábado, 28 de agosto de 2010

Carta para um ex

Vou te contar um segredo, ex-amigo, ex-amante, ex-amor.... em silêncio navego no google atrás de notícias tuas, de novos endereços, novos sons, novos ídolos teus.

Há segredos dolorosos para serem guardados na gaveta com chave do silêncio. Você as vezes ainda grita em minha cabeça que doía toda vez que eu bebia pensando em você. Aiii, meu ex-qualquer coisa, talvez um ex-eu?

Lembra quando diziamos das nossas semelhanças, eu queria falar similitude, mas nem sei se existe e achei tão bonita palavra. Similutide! Fui procurar no google e veio uma cacetada de coisas em inglês. Prefiro achar que não existe, embora seja tão bonita.

Ando pensando em coisas e lembrei agora do meu filho Moribidênio que eu teria com Leila. As palavras bonitas me dão vontade de ter filhos. Descobri esta palavra na aula de química. Moribidênio! Forte. Se eu tivesse um filho teria este nome, assim como a filha se chamaria Similitude. Achei feminino!

Ahhhh meu ex-menino, estou falando palavras desconexas pela beleza que esconde uma tristeza eterna lá no fundo. Nunca mais tive aquela alegria de quando começamos e nos descobrimos. Estou falando muito de descobertas, né? Tenho descoberto mundos incríveis e é uma pena você não estar mais comigo. Seu avô sentiria orgulho de minhas viagens, minhas danças, meus encontros. Por que foi mesmo que a gente se desencantou?

Juro que eu queria falar somente o necessário, mas sairam as palavras que quiseram sair. Não as obrigo a nada. Deixo rolar o fluxo, você sabe.

Dê lembranças a toda família e não esqueça de quando eu era pequeno querendo ser índio na cabana de janela. Por aqui todos vão bem e a família aumentou, como na época do Playmobil. A casa parece uma eterna festa de aniversário.

Nos visite de vez em quando, acho que minha alegria voltaria um dia.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Cadeira elétrica

Que vontade de me carnavalizar!!!!! Que saudade de quando eu não tinha medo de briga na multidão, quando eu achava que estava imune a tudo... Ahhhh que saudade da minha loucura! Estou pensando em fazer um bloco no próximo carnaval. Quem quer me seguir?

Uma amiga me lembrou do dia em que estávamos no Festival de Lençóis, enlouquecidos, animadíssimos, quando os shows acabaram e a cidade foi adormecendo. Eu, minha turma e um monte de gente desconhecida ainda desejava mais. Como não havia o que ser feito, saimos pela madrugada com uns instrumentos, parecendo bloco de carnaval e eu com a minha cadeira elétrica guiava o povo pelas ruas estreitas e bares daquele interior.

Há uns anos atrás me perdi da cadeira de rodas em pleno bloco Os Mascarados. Pulando nas costas de um amigo, a multidão foi nos afastando da minha cadeira até a perdermos de vista. Ficamos muito tempo indo da frente do bloco ao fundo do trio procurando e perguntando:

- Você viu uma cadeira de rodas por ai?

O povo respondia que tinha visto uma ali na direita, não, ela está ali na frente.... Quando encontramos, a minha amiga que estava guiando contou a loucura de uma pessoa que exclamou:

- Isso que é originalidade! A outra veio empurrando uma cadeira de rodas com um cachorro em cima.

O detalhe é que o cachorro que a mulher falou era simplesmente um chapéu de pelúcia que meu amigo havia colocado na cadeira para me carregar.

Em dose dupla hoje

Adoro usar o Monólogos para compartilhar alegrias com meus e-amigos. Hoje foi um dia cheio delas, recebi duas notícias que me fizeram levitar, gritar, sorrir..........

A primeira foi a seleção de Odete, traga meus mortos para a PID 2010 (Plataforma Internacional de Dança) a ser realizada em Dezembro aqui em Salvador. Aliás, Odete é um projeto que foi selecionado em tudo que foi inscrito: Prêmio Festival Vivadança, Temporada 2º Semestre no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro e agora a PID.


A segunda foi a seleção no Edital de Difusão e intercâmbio, promovido pelo MINC, na concessão  de passagem aérea para a França, a fim de participar, junto com Fafá, do projeto Euphorico a page aberta, intercâmbio entre o Grupo X de Improvisação em Dança e a Cia Artmacadam.

O Euphorcio é um projeto especial para nós do Grupo X porque temos a oportunidade de conviver com a arte de um grupo diferenciado e especial e dos nossos amores Wilfrid e Helene, além de todo mundo que cerca o Artmacadam.

2010 está sendo um ano brilhante para minha carreira, tendo reconhecimento pelo meu trabalho e ralando bastante.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O pé de Cinderela

Era final de balada n'A Loca da paulicéia desvairada. Corri pro Vegas com uma turma, mas acabei sozinho na boate porque estava com planos para a minha vida: um rapaz lindo, com seus olhos azuis e boca vermelha e carnuda. Roubou meu chapéu alemão sem se despedir de mim. Fui ao bar pegar a oitava Cuba e caçar outra boca para a minha insaciável. Avistei num sofazinho do canto um outro olhar fixo em mim e um sorriso que fingia timidez e conquista. Me aproximei também com meu sorriso de conquista. Ofereci a bebida e ele me bebeu.

Segurava com prazer as minhas pernas e tirou o meu sapato para sentir os meus pés pequenos em suas mãos. Já estávamos agora no quarto do hotel onde ele estava hospedado. Esfregava com volúpia meus pés no seu pau, seu peito, sua boca. Sentou-se na minha cadeira de rodas e me sentou no seu colo.

A noite acabou num dia lindo, ensolarado e eu com sorriso dourado olhando aquele povo que saía para o trabalho não me dei conta que estava apenas com o pé esquerdo do sapato. Uma cinderela sem saber sequer o nome dos príncipes ladrões.

* Resolvi escrever também um microconto devotee e publiquei lá n'O Corpo Perturbador. Achei legal colocar aqui também. Este é uma homenagem a São Paulo, a boate A Loca, Vegas e a tanta gente que passou por mim nesses lugares.

sábado, 21 de agosto de 2010

A peruca de Renata Sorrah

Ela saiu numa sexta a tarde para fazer algumas compras: esmalte e batom bem vermelhos, uma camisola verde-água e uma peruca loira. Andou ruas e ruas e ruas de uma cidade vazia, oca de tudo, sem encontrar a tal peruca.

Entrou num salão que exibia na vitrine um manequim loiríssimo de cabelo chanel e franja a la Renata Sorrah ou seria Regina Duarte? Enfim... experimentou a peruca, pechinchou o preço e guardou numa rede a jóia dourada.

- Ficou muito bem na senhora! Elogiou a vendedora.
- Não, minha filha, não é para mim. É para meu filho, ele é a Marilyn Monroe.



Foto de André Baliú


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

in-VEJA

Pintura: Márcia Berenguer Cabral



A inveja vai minando nossas forças.  in-VEJA!

Veja só, estou no meu canto, fazendo minhas coisas e o outro se incomoda com minhas conquistas, com minha vitória. Lança um olhar que diz tudo de sua frustração, de seu desgosto por não conseguir avança. Quer ocupar outro lugar, outro corpo, outro ambiente. Quer o que é do outro. Acaba sem ter nada de seu.

Mesmo aquele que já tem quer mais por ser do outro. A inveja vai destruindo amizades, relações. A inveja é a não auto-estima.

Veja o quanto trabalhei para chegar até aqui. Veja o que sofri para conquistar este pedacinho de pão. Veja o quanto rodei para alcançar o alcancei. Não quis nada que não fosse meu, não desejei o desejo do outro. Segui a minha estrada em várias companhias, mas só segui a minha trilha.

Não queira um atalho que não foi feito pro seu caminhar. Não queira o meu pão, meu tecido, minha saúde, meu amor.

Meus aplausos não serão seus.

* texto meio troncho para evitar os olhos gordos que estão por ai. Um texto como quem faz uma carranca.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Coisa e tal (da série Retomando o Passado)

Há uma coisa bacana
Nessa tal de história de amor:
A criatividade com que as pessoas amam
Descascam banana
Esperando encontrar filé mignon
Inventam sofrimento,
Criam traição,
Sofrem com a demora na espera
E jogam culpa no coração
Se o telefone não toca,
Se passam o Sábado assistindo televisão,
Taí o coitado sofrendo apertado, xingado
Porque a cabeça do dono
Já inventou mil e uma situações
É um tal de choro no banheiro
(resfriado de quem está só!)
é uma tal de música de corno no chuveiro
E simpatias para segurar “ocó”
O coração é tão mais simples que a cuca
Só faz sentir
E quando cansa parte para outra
Mas a mente, não, essa maluca!
Mesmo depois do sentimento esgotado
Do relacionamento acabado
E de já ter “varrido” a cidade
Reencontra o ex
E vem a tal da possessividade
Quer logo reconquistar
Mesmo que seja para deixar
Ou diz que está com ciúme
E tem vontade de matar
Bebe para dar vexame
Veste-se toda vulgar
E quando o outro se aproxima
Faz logo um enxame
E pede que vá embora
E manda largar

A cabeça que ama
É atriz mexicana
Só sabe mesmo chorar

* eu adoro reler este texto, criado em 2003, porque me traz boas lembranças de quando o escrevi. Foi publicado pela primeira vez aqui no blog em 13/07/2008. Continuo achando a mesma coisa. Um texto que não envelhecerá para mim.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Apoio para o 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?



Peço a atenção de vocês para falar um pouco sobre um evento de grande importância na área da Dança e principalmente da Dança Inclusiva que estou organizando junto ao Grupo X de Improvisação em Dança,  o 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso? e acontecerá de 08 a 12 de Setembro, no Espaço Xisto Bahia e em outros ambientes da Biblioteca Pública Central dos Barris. Quem tiver interesse em ler até o final deste post saberá que o evento conta com uma vasta programação e inúmeros convidados da Bahia e também de outros estados brasileiros. Conseguimos dois apoios significativos da FUNCEB através do Espaço Xisto Bahia e do Calendário de Apoio e outro da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos através da CORDEF, mas estes apoios não são suficientes para suprir todas as nossas necessidades e o empresariado baiano não se mostra disponível a nos ouvir quanto mais a apoiar. Peço a essa rede de e-amigos que conquistei ao longo desse tempo que me ajude a encontrar alguma saída ou me colocar em contato com algum possível parceiro para que possamos finalizar a parte de captação para alimentação, tradução em audiodescrição e LIBRAS, translado e se possível pagamento do pessoal que está trabalhando voluntariamente (porque não tem jeito).

O Encontro é uma reunião de artistas com e sem deficiência, pesquisadores em dança, profissionais na área de comunicação, educação, psicologia e produção para promover um debate interdisciplinar sobre a participação efetiva das pessoas com deficiência no processo de inclusão social tão divulgada e difundida nos últimos tempos, sobretudo no campo artístico da dança. As discussões giram em torno de acessibilidade, profissionalização e inserção no mercado de trabalho de artistas/dançarinos com deficiência que não tiveram acesso a informação e formação em dança seja nos ambientes acadêmicos e espaços formais de ensino de dança.

A pergunta "A dança é da deficiência ou do deficiente?" estará mediando as reflexões para analisar, no contexto contemporâneo, que estratégias de sobrevivência são engendradas por grupos e/ou dançarinos com deficiência, para acesso ao mercado de trabalho e ao campo artístico.

A programação conta com oficinas, debates, cirandões, performances, espetáculos, exposição de fotos de Alessandra Nohvais, banner, relatos de experiência, publicação de artigos na Revista da FACED e projeção de videos na Sala Alexandre Robato.

O evento promoverá três mesas de debates com os seguintes temas:
Mesa 01: A mídia, as políticas públicas e a produção inclusiva.
Mesa 02- A formação do artista com deficiência.
Mesa 03: Dança Inclusiva. O que é isso?

Teremos palestrantes da maior importância no cenário brasileiro: Carolina Teixeira, Helena Katz, Angel Vianna, Paulo Braz, Lucia Matos, Neca Zarvos, Cia Gira Dança, Pulsar Cia de Dança, Lenira Rengel, Fafa Daltro, Eleonora Santos, Alexandre Molina, Alexandre Baroni, Joceval Santana, Terezinha Miranda, Carla Leite, Norberto Peña.

Para nossa felicidade tivemos a imensa felicidade em saber que Angel Vianna fará participação no espetáculo da Cia Pulsa de Dança. Angel é um dos maiores ícones da Dança brasileira e nos presenteará com sua arte nos palcos baianos.

Os cirandões são fóruns de debate com o público participante e realização de atividades de criação artística e mostra aberta de performances de dança. Ocorrerão em dois dias de atividades com artistas e pesquisadores convidados e também aberto aos participantes do Encontro para mostrarem suas pesquisas teóricas e/ou práticas, com relatos de experiência de até 15 min cada, enviando previamente a pesquisa para seleção da comissão acadêmica, assim como apresentar vídeo e banner dos trabalhos.

Serão oferecidas oficinas ministradas por alguns dos palestrantes convidados e curso de audiodescrição com a Profº Dra Eliana Franco.

Haverá apresentações de três espetáculos no palco principal: Judite quer chorar, mas não consegue! de Edu O. (Salvador) e trabalhos especialmente criados para nosso evento da Cia Gira Dança (Natal) e Pulsar Cia de Dança (Rio de Janeiro).

Serão apresentadas diversas performances no foyer ao longo do evento: Vestido curto na alma de dentro (Grupo X de Improvisação em Dança), Odete, traga meus mortos (EduO. e Lucas Valentim), Grupo Opaxorô, Estudo para carne, água e osso (His Contemporâneo de Dança) e Braile (Liria Morays).

Conto com a colaboração de vocês na divulgação do evento.

Maiores informações e Inscrições pelo blog: http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/

Doações:
Agencia 3457-6
C/C - 803641-1
Banco de Brasil
Fatima Daltro
(coordenadora do Encontro e Diretora do Grupo X de Improvisação em Dança)


Obrigado

sábado, 14 de agosto de 2010

No surprises... (presende de Edu Alves)

“aqui está frio”
“aqui também...”
“o que vc ta ouvindo?”
“No surprises...”
“quinta ou sexta vez? Hehehe...”
“rsrsrs, sétima...”
“consegue?”
“o vinho ta bom...”
...
...
“sente minha falta?”
“às vezes penso que sim, em outras...”
“nas outras vc não sabe perdoar...”
“nas outras dói...”
“tenta...”
“não sei...”
‘perdoar, ou tentar?”
... ... ...
... ... ...
“o amor é uma página elétrica de 220 volts. Eu li essa frase hoje e fiquei pensando... o que fala mais, o medo ou o desafio?”
“acho que quando se trata de amor, tudo faz silêncio... precisamos chegar à era do não-dizer. E quem quiser que capte no ar...”
“quem souber...”
“quem souber morre... de amor!”
“me liga hoje? Quero ouvir sua voz...”
“gostei de vc ter pedido... eu já ia ligar... mas ligo depois... hehehehe”
“rsrsrs, te espero. Enquanto isso, vou ver a lua de luneta.”
“enquanto isso, no surprises...”

Eduardo Alves é um dos meus grandes amigos e um dos grandes compositores que Santo Amaro nos deu.  Inúmeras vezes tive a oportunidade estar com eleno adro da igreja da Purificação, tocando, cantando, confessando nossas vidas. Se tivesse uma trilha para mim, com certeza, teria várias músicas de Du. Amargo ou flor, Esboço, Se puder tocar no rádio, Meus dias, Fax de Lua.... ahhhh são muitas!

Edu Alves me presenteou com este "No surprises..."  para os Microcontos, mas achei mais apropriado para os Monólogos.

E vou dormir ouvindo uma das músicas de minha vida cantada pelo próprio compositor e Noeme Bastos, uma grande cantora baiana.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A tal da somatização

"Na verdade, não existe um só sentimento que não tenha uma repercussão física. O que varia é a intensidade da emoção e a vulnerabilidade do corpo", Geraldo Ballone, psiquiatra de Campinas.

Aos poucos fui identificando que as gripes corriqueiras, as inflamções na garganta, as ânsias de vômito são respostas físicas a uma sobrecarga emocional muito grande. Qualquer coisa que me desestabilize emocionalzmente o corpo reage imediatamente. É a tal da somatização, né?

Incrível como meu corpo responde rapidamente a qualquer abalo. Esta semana foi assim. Estou com sensação grípal desde o dia do estresse, uma moleza e só vontade de dormir. Acredito que por trabalhar com o corpo, dançando, eu tenha facilidade em identificar algumas coisas físicas que podem passar despercebidas a quem não é atento ao corpo. Sei que este mal estar é muito menos corporal do que mental. O problema é que eu precisaria me isolar um pouco, descansar, sair do ritmo estressante em que estou para dar atenção ao meu corpo,mas isso é mpossível nesses dias, o pior, nesses meses em que estou imerso em tantos projetos, tantos trabalhos que me dão prazer, satisfação, mas que cobram de mim um exercício cansativo do fazersem interrupção. Agora com a carga de estresse que me aconteceu esta semana, desestruturou tudo. Minha cabeça não para um minuto de pensar nas coisas que tenho a fazer e tudo que eu queria, por um segundo, era pensar na sensação do pé afundando na areia fria e o mar tocando meus cambitos na praia em Santo Amaro.Tudo que eu queria era me transportar um segundo para lá e ficar como numa eternidade.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Contato Sutil

Começo mais uma etapa. Ganhei um presente hoje. Comecei uma parceria com a Marinha através PROJETO CONQUISTANDO ESPAÇOS,  o workshop Contato Sutil voltado para pessoas com deficiência e seus cuidadores, dependentes dos oficiais. Levando para aquele ambiente um trabalho de corpo que pretende, por meio da arteterapia, da musicalidade e da dança, pretende-se desenvolver a autonomia, o auto-conhecimento e a consciência corporal dos participantes.


No primeiro encontramos as resistências de sempre quando se fala em corpo, dança, movimento, mas aos poucos a timidez vai desaparecendo, a entrega fica evidente e no final os depoimentos nos enchem de alegria e incentivo a continuar.

Estava sentindo falta de voltar a atuar com arteterapia, sempre desejei trabalhar um grupo e minha expectativa é das melhores. Até Novembro estarei mergulhado nesse projeto com o desejo que ele floresça e seja uma experiência marcante para todos que participarem.

Agradeço a Tenente Taiana, a estagiária Daiana e a minha amiga Diane Portella que embarcaram comigo nessa deliciosa viagem.

domingo, 8 de agosto de 2010

O MICROCONTO DEVOTEE publicado hoje
 n'O Corpo Perturbador é de Chorik.

A cambada de meu avô

Essas datas comemorativas as vezes servem para reencontros, festejos, comida boa. A de hoje, a mim, só serve para dar mais saudade de meu avô. Era com ele que eu passava os dias dos pais, era com ele que eu passava minha vida, vizualizava meu futuro.

Ismael, Irma, Aismaié.... todo dia um nome novo, inventado pela força do carinho daqueles momentos. Uma figura única, enlouquecida. Quando deu de enlouquecer de verdade por causa dos muitos anos vividos, curtíamos suas aventuras como se fóssemos companheiros de viagem. Era um tal de cortar cana nas pernas do criado mudo, conversa com o parceiro de juventude Sr. Guarda-roupa, atentar o juizo das empregadas, pirraçar minha irmã, irritar Rita, gritar Leila na porta e casar com Paula.

Um dia estávamos assistindo televisão na sala e ele a falar sozinho dos amigos. Então Huguinho, um amigo meu, levantou e convidou o Coronel Aismaié para um bordejo pela cidade, na rua principal (longo corredor da casa) de Amélia Rodrigues. O Coronel colocou um chapéu, arrumou o paletó/pijama e saiu de braços dados com o seu serviçal.

Chamaram pelo Coronel Osvaldinho na primeira porta que encontraram (banheiro), ninguém atendeu. Passaram pela igreja matriz (oratório) e Aismaié fez uma oração pedindo proteção aos seus. Seguiram viagem até a casa seguinte (quarto do meio). "AHHH merda! Não tem ninguém em casa hoje. Duvalzinho também saiu!" Falava irritado sem conseguir encontrar os companheiros da birita.

- Coronel Aismaié, já está ficando tarde e estamos chegando perto de sua casa (quarto de meu avô), não é melhor a gente se descansar, tomar uma água? Depois voltamos para ver a turma.

-É, meu filho, você tem razão. Deixa esses cornos para lá. Vamos para casa que é melhor.

Os dois entraram no primeiro quarto do corredor. Hugo ajeitou meu avô na cama, deitou, dormiu e sonhou com os tempos em que andava com a cambada. Pouco depois ele não levantou nunca mais daquela cama.

E hoje essa data me fez chorar sentindo o cheiro da torrada assando, do lençol lavado, do mofo no quintal, do bafo de cachaça e das risadas que não consigo mais ouvir.

Em 2001 eu me despedi de meu avô comemorando a minha formatura. Foi numa segunda-feira de manhã, ele sem lembrar mais de ninguém, sem conseguir ouvir e falar direito. Beijei seu nariz e disse-lhe que eu havia conseguido me formar, pois sabia que aquele era um sonho seu. Ele que vivia inerte na cama, se virou em minha direção e me disse um "parabéns, meu filho!". Naquele momento eu sabia que ele retomou a lucidez,me reconhecendo e vibrando comigo. Nos dissemos tchau e no dia seguinte ele se foi para encontrar a cambada num lugar que eu não sei onde é, mas que adoraria ir agora lhe dar um beijo.

Nesta mesma semana eu partcipei de uma exposição para conclusão do curso e fiz com o arame do quintal o "Varal de meu avô" com minhas colagens, tênis, objetos de minha vida e ele. Ainda coloquei uma cópia dessa música de Fátima Guedes que deve ter conhecido Coronel Aismaié em alguma esquina dessas por aí.
Vale muito a pena ouvir esta canção clicando no título abaixo.


No fim da casa
Fátima Guedes

O quarto do meu avô
Já se sente um quarto de morto, já
Muito embora vivo ele esteja aqui
Nem sabe quão morto ele vive lá

O quarto do meu avô
Tem uma caca que desarma
Na mesinha um retrato e uma flor
Que ele usa como arma

E conta e reconta e torna a contar
Os casos do tempo de moço
Herói das horas do jantar
O mesmo herói da história do almoço

O quarto do meu avô
Tem um velho armário enorme
Tão grande que inibe um sonhador
E ele nem cochila enquanto dorme

O quarto do meu avô
Tem a extensão que a noite corta
Tão escuro que não se enxerga a dor
Tão profundo que não se abre a porta

E reza e reveza a prece das seis
Quem nunca foi religioso
Agora é o que resta de um que foi três
Dos três, o mais laborioso

Quando ele veio pra nós
Trouxe a viuvez no corpo de leão
Trouxe a mala aberta, orgulho aberto
Pijama, pinico e carrilhão

sábado, 7 de agosto de 2010

Sem açúcar

Quando acordei e não te vi ao meu lado foi que me dei conta de que a qualquer momento eu poderia te perder. Embora você estivesse bem ali, no banheiro, se arrumando para mais um dia de trabalho. Mas, é que apesar de ter estado na mesma cama, a tua ausência foi muito grande esta noite. O nosso sexo já virou uma espécie de masturbação, é como se eu estivesse transando com o meu travesseiro ou então, é aquela mesma sensação de estar ouvindo “A Hora do Brasil!”.

Há tempos não existe mais aquela preocupação com o outro, aquela satisfação pelo prazer do outro...
Agora está cada um gozando ao seu tempo, virando e dormindo, como um cânone na dança: Primeiro você, depois eu, sempre assim. Da última vez você até dormiu no “durante”! Nós adorávamos conversar depois, lembra? Agora não dialogamos nem com “Boa Noite”.

Aquela história:
- Boa noite, amor!
- Boa noite!
- É, boa noite!
- BOOAA NOIIITEEEE!

O que houve, hein?
Não vale dizer que é uma fase,
Que logo, logo, tudo vai melhorar,
Que é uma crise comum entre casais...
É o que?
Eu não sou comum!
Nós não somos comuns!
Nosso relacionamento muito menos!
Esta hipótese, então, está fora de questão.
Me diga, por favor, o que houve?
Pára com este silêncio!!!!
Está parecendo meu criado mudo, nunca me responde nada!

Outro dia, numa noite de insônia sem você, perguntei a ele se seríamos felizes, se você me amava, e ele com aquela boca aberta sorriu de minha cara, me mostrando as fotos de nossa lua de mel que eu fiz sozinho. Aquela viagem a Paquetá, que seria a lua de mel do namoro, pois a do casamento planejamos uma viagem bem melhor, aquela que justamente na véspera você arranjou um trabalho extra. Viajei só com a lua e com um gosto bem amargo temperado pelos olhos no canto da boca. Pelo que eu vejo, nossa lua de mel de verdade, você vai fazer com outra pessoa.

Precisei de você nesta mesma noite, precisei do teu colo, minha cama me expulsou, meu quarto me colocou para fora sem travesseiro, sem nada! Me consideravam muito só! Que sem você eu não mais entraria, minha cama dizia ter sido feita para você, que prazer somente contigo, que você inspirava seus sonhos, ou você ou nada!

E agora você se transforma numa presença distante ao meu lado?

Não encosta em mim! Eu vi aquele beijo! Não se faça de besta, eu vi!!! Tanta paixão!! Loucura de namorados!! Você também viu! Você sabe muito bem do que eu estou falando! Aquele beijo do cinema, daquele filme que a gente assistiu! Você nunca me beijou assim. Eu nunca fui teu astro preferido. Se não era para me amar dissesse desde o início! Evitaria as lágrimas, a tentativa de suicídio...

Não que tivesse tentado me matar, mas eu havia esquecido de viver, o que é bem parecido!

Às vezes colocamos o outro num altar e acabamos nos subestimando, gostamos mais do outro do que de nós mesmos, fazemos tudo pelo outro e nada por nós. Assim esquecemos referências próprias e até quem somos. Desta forma não tem do que o outro gostar. Não somos nós...

É verdade! Bem que eu poderia ter me amado mais, me anulado menos! Você cuspiu em mim o chiclete que te dei com aquela mensagem: “Você trouxe alegria para minha vida!”. Que mentira!!! Isso foi só no início, quando eu achava que o nosso amor seria eterno. E foi! Eterno enquanto durou o açúcar do chiclete! Você tirou o doce da minha boca que salivava por teu beijo. Num determinado momento não sabia mais se era saliva ou lágrima o que escorria no meu rosto.

Não era nada disso! Era a chuva que começava a cair e eu me dei conta de que estava sozinho de madrugada na rua. Fui voltando devagar, pensando e sorrindo, lembrando de nós, lá no começo! Eu nas tuas costas, você dentro de mim. Deveria ser sempre assim! Diversificar um pouco, talvez, eu dentro de ti e você no meu colo. Constantes somente os beijos e nosso amor. Será que algum dia ele existiu? Acho que era ficção, foi amor de momento, um verso numa canção. A canção que você não fez para mim. Estava sem inspiração!

Sabe qual foi a última música que você cantou para mim? Você cantou com um coro, “Parabéns a você!”, no meu último aniversário! Já vai fazer um ano! Olha para mim!!!! Você já deve ter esquecido meu rosto! Há dias você não olha em minha direção. Está praticamente conversa de cegos, ninguém se olha, ninguém se vê... Não!! Estamos parecendo Willian e Fátima no Jornal Nacional, sentados um paralelo ao outro, sem cruzar olhares, soltando comentários vagos diante da tv.

Eu queria te ver!!!

Fazendo carinho na minha boca, beijando meus olhos, mordendo meu nariz, deitando em mim até me sufocar! Eu até contratei alguém para fazer isso no teu lugar, mas não era verdadeiro do mesmo jeito! No nosso caso, não é que esteja faltando, não é questão de quantidade, é questão de presença, verdade. Se é para pagar, eu pago a você, que pelo menos eu amo e agiria igual àquela pessoa: mecanicamente, sem vontade, sem tesão... Nem com o Kama Sutra, não existe mais posição! Minha coluna está doendo com a espera. Ando de um lado para outro te encontrando em cada canto da casa, me perdendo em cada pedaço de assoalho.

Pendurei cruzes, alhos, figas para espantar este fantasma teu que habita meu centro, meu eixo. Me deixo desequilibrar por você. Esta pessoa que não entende o que falo! Quando falo em satisfação, prazer, saliva, posição, é o mesmo que dizer: Eu te amo!!!

Mas nem eu compreendo esta frase... Há algum tempo atrás repetiram isso para mim, eu não dei ouvidos, não acreditei, não era possível! Era uma brincadeira de mal gosto! Eu não conseguia retribuir o sentimento. Ao me sentir amado fiquei livre para outras pessoas, já que tinha a segurança daquele amor, mas o amor contagia e eu amei você. Aquele amor se perdeu no tempo e me amaldiçoou com o teu. Hoje passo, exatamente, o que fiz quem me amava passar! Estou passando mal! Em mim, só teu cheiro e azia. Não vejo nada por ter te entregue meus olhos de presente. Cego que estava, não percebi que não te possuía. Se eu fizesse versos para te tocar? E se tocasse uma música para dançar? Se tivesse dado um presente que ninguém...?

Sem você... Minha vida, comida sem sal.
Ah! E este cheiro, esta azia...
Estou borbulhando Sonrisal!
Subindo para a lua
Todo aziático!
Trovões de arroto.
Fiquei roto, antigo, démodé
Copiando a mim mesmo
Pintando você!

Venha, as coisas já estão na mesa!
Estou indo, fiquei sem fome.
Mas você como quer o café?
O que acha do nosso relacionamento?

- SEM AÇÚCAR!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Culpa da terapeuta

Um amigo meu andou apaixonado por gente de fora, amor a distância, essas coisas... A geografia não ajudou muito na relação e o fim já foi o que todos esperavam menos ele.

O bichinho inventou de arrumar uma paixão lá de Sumpalo. Se encontraram poucas vezes, mas o suficiente para afirmarem um grande sentimento e morrerem de saudade nos enormes intervalos sem um contato físico. Relação patrocinada por Graham Bell. Contas telefônicas absurdas, lamúrias e tristezas. O de cá, coitado, ainda tinha um gasto extra com lenço de papel, embora ele precisasse mesmo de um lençol para aparar tanta lágrima. O de lá cansou de sofrer. Todo mundo cansa, não é? E inventou de acabar aquele tormento de horas a fio de carpideiras. Para que fez isso, meu filho?

O de cá resolveu bater a minha porta quando eu me preparava para dormir. Aos prantos, me abraçando, agarrado a duas caixas de cerveja.

- Meu amigo, estou precisando de você e não vá me negar esta noite aqui. Já trouxe a Skolzinha, amiga de todas as horas.

Foi jogando as caixas no sofá e abrindo a primeira latinha. Eu que não tinha planejado um fim de sexta-feira assim, até que gostei, embora estivesse preocupado com a situação do rapaz. Já tinha tentado ligar para ele para saber a boa da noite, mas não atendia.

- Eu joguei o celular pela janela do ônibus. Eu estava indo para casa quando o de lá me ligou dizendo que cansou de sofrer, que não consegue mais bancar nossa relação assim, que numseiquê. Eu não esperei ele desligar e taquei o celular pela janela, aos prantos, gritando no meio do corredor, um vexame com o cobrador que me vê todos os dias. Só faltei me jogar junto.
- Você está louco! Seu ncelular é de conta!
- Prefiro patrocinar a alegria de alguém do que a minha própria desgraaaaaça!

E começou um choro sem fim, interrompido apenas com os goles de cerveja que acompanhavam o soluço do pranto. Ficamos nisso até quase o final da segunda caixa. Eu já estava para lá de Bagdá e ele não menos. Vocês acreditam que não parou de chorar durante três horas? Bebendo e chorando. Chorando e bebendo.

De repente, ele olha na minha cara, começa a me esbofetear. Eu sem entender olhava assustado. Ele começou a gritar e a bater a cabeça no chão, cabeça na parede, cabeça no chão.... infinitas vezes e a me bater.

- Isso é para eu descontar... Cansou de sofrer?! Não pode bancar nossa relação, é? É mentira dele. Isso foi invenção da terapeuta. Tudo isso é culpa de terapeuta. Só pode ser. Preciso ligar para ele para explicar que as coisas não são assim, que terapeuta é mau amado, é bicho esquisito, é complicado. Que nosso amor vale a pena, sim. Que eu estou aqui longe, mas é como se estivesse perto. Ahhh terapeuta desgraçada!!!!! Vou ligar para ele.

O de cá parou de me esbofetear com a mão perdida no ar como se fosse efeito de novela, arregalou os olhos e sussurrou em desespero:

- Mas eu não sei o número dele de cabeça, só tinha no celular.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Casa de Massagem de Marcus Gusmão

Nosso querido Marcus Gusmão me deu de presente este microconto devotee que publiquei também no blog O Corpo Perturbador que é para onde os microcontos são criados, mas como aqui temos vários amigos em comum, sei que será um sucesso.

Casa de Massagem III

Marcus Gusmão (terceiro ponto de vista sobre o conto de Herculano Neto)

Enxuguei as mãos, joguei o avental na pia e fui para o depósito. Cheguei a tempo ao meu posto de observação, uma fresta na junção das madeiras da janela do quarto dos fundos. As garotas sabiam quando eu estava ali, mas desta vez não teve a piscadela de sempre. Ela se concentrou em tirar a roupa do cara. Muitas vezes fazia isso com aqueles que achavam estar o serviço incluído no preço. Neste caso era necessidade.

Moro em Alagoinhas e para mulher e filhos justifico Salvador todo fim de semana com uma pós-graduação. De fato, faço o curso, já é o terceiro. Mas à noite trabalho quase de graça numa casa de massagem, como barman.

De repente só havia o corpo dela de costas para mim, agachada de quatro, com os cotovelos apoiados no colchão. Aquela posição era a melhor, dava pra ver todos os movimentos. Mas desta vez não havia outras pernas nem outras mãos. Do cara eu só via a cabeça apoiada sobre o travesseiro. E os olhos. Toda a energia daquele corpo se concentrava nos olhos e na pélvis totalmente envolvida, calçada por outro travesseiro. Parecia um gato comendo um passarinho.

Estava acostumado a olhar. Muitas vezes era só um olhar um pouco febril. Mas desta vez senti a febre mais alta, da nuca para a cabeça. Respirava no ritmo daqueles dois, ritmo intenso, cadenciado, seguido também por minha mão direita. Lá pelas tantas ela virou o pescoço e finalmente me saudou. Notei um sorriso diferente no seu rosto. Gozamos os três quase ao mesmo tempo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mercado é mercado, artistas são outros 500

Desde muito novos todos nós brincamos de desenhar, pintar, nos fascinamos com as cores, adoramos nos lambuzar nas tintas, no barro, adoramos nos melar com cola, mas quando crescemos não necessariamente nos tornamos artistas por isso.

Ser artista é antes de tudo ter uma percepção sensível diante das coisas que nos cercam, de informações que nos chegam e principalmente ter uma inquietação e uma necessidade enorme de expressar nossas angústias, alegrias, dúvidas, respostas, enfim, de comunicar ao mundo questões pessoais.

Entrei para a escola de Belas Artes - UFBA, em 1995 e formei-me em 2000. Fiz o vestibular porque não havia nenhuma profissão que me fascinava e após um curso de pintura com uma amiga de minha mãe resolvi fazer o vestibular para Artes Plásticas para não ter a cobrança de ficar um ano no ócio. Demorei em me admitir artista, em me assumir como profissional justamente porque minha arte não representava minhas inquietações, não expressava o que eu gostaria de falar. O convívio com outros artistas, as conversas no pátio, o estudo de estética, as visitas às exposições, o acesso às várias formas de fazer arte e aos “discursos conceituais” sobre os trabalhos me deram clareza para o que eu estava fazendo e da responsabilidade que eu tinha quanto artista.

Como artista plástico sinto-me muito solitário, é um trabalho de reflexão e isolamento ao seu mundo pessoal, de executar individualmente a sua idéia, é você e o objeto, diferente da sensação que tenho como dançarino, que também sou, pois na dança o trabalho é em grupo e mesmo que você desenvolva um trabalho autoral, mais independente, pode existir a música, a luz e figurino que são formas de expressão também, além da equipe de trabalho e do público que te assiste. Já num projeto de artes plásticas até a relação com o público é diferente, porque é uma admiração ao trabalho artístico, ao objeto. A sua obra acaba tornando-se independente de você. A sua importância acaba na finalização do trabalho, a partir daí ele toma vida própria, cria uma identidade particular, o que é fascinante também, porque a meu ver assim tem que ser uma obra de arte: falar por si mesma. A obra já é a expressão, apesar do conceito, apesar de todas as teorias. Estou falando do trabalho artístico que pode ser um risco, um jato de fumaça ou qualquer coisa, mas tem que haver o diálogo da própria obra com o espectador.

O fazer arte é fantástico o que é complicado é fazer parte do mercado de arte, pois este é restrito a um grupo seleto e permanente, com poucas variações e absorção lenta de novos artistas no mercado. Lógico que surgem nomes novos, mas o manter-se e fazer parte do grupo que vive disso é um trabalho à parte da produção.

Penso que temos que procurar soluções criativas e práticas, além das vias tradicionais, para podermos manter nosso trabalho e ganhar dinheiro com o que produzimos como acontece em todas as áreas profissionais.

desenho criado para estamparia de camiseta (no túnel do tempo)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pára-brisa trincado

Sem você aquela São Paulo não foi a mesma para mim
Estive andando pela rua, sozinho,
Levando no colo um peso azul de uma vida
Numa companhia que eu desconhecia,
Que não era eu
Eu estava vestido de preto assim como você, entende?
Eu usava, ainda, um casaco verde
Eu quero dizer é que o que me protegia era verde
Esses detalhes são importantes porque fiz estudo de cores, Jung... essas coisas
Estou fazendo terapia
Pela primeira vez andei sozinho
E isso não foi um problema, não foi ruim
Estar só até que fez bem para mim
Passando numa rua vazia
Vi um carro com pára-brisa trincado
Haviam tentado roubá-lo
Eu me senti aquele pára-brisa
Que não se conserta, não se ajeita
Não tem jeito para uma alma trincada
As rachaduras num vidro são como cicatrizes profundas
Sem você agora
Tenho que dirigir minha vida
Olhando por entre as rachaduras

Mudando de assunto - Resolvi colocar embaixo da foto principal do blog uma página com os MICROCONTOS DEVOTEES. Acho que vale a pena os amigos aqui do Monólogos na Madrugada compartilharem esses presentes que tenho recebido lá no Corpo Perturbador.