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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O mergulho

Aquele menino tem uma mania estranha. Ele costuma deitar no chão, fechar os olhos, respirar fundo, gastar tempo sem fazer nada. Solta todo o ar de dentro do peito e fica sem respirar durante um longo período. Diz ter a sensação do mergulho, do útero, do silêncio...

Ele se esvazia para poder se encher novamente e adora permanecer nessa brincadeira. Rola pelo chão, sente seu peso, o contato com o solo duro, percebe as partes do seu corpo, brinca com tudo o que tem dentro e fora. Estranho alguém brincar consigo mesmo!

Estranho ver numa folha de bananeira um dinossauro e imaginar uma conversa animada com o bicho imaginário. Engraçado pensar no seu sobrinho pequeno, querendo colocá-lo no papo com o animal extinto.

Tem tanta coisa estranha no mundo, mas o que eu acho estranho mesmo são as coisas que vejo nos jornais da tv, o pé em decomposição que passou na hora do almoço no programa desses senhores que batem na mesa. É tão estranho o mundo! Sem aqueles pé, do que sobreviveria esse programa? E porque alguém fez aquilo com o dono daquele pé?

E o menino quando vê tudo isso, o que ele faz?

4 comentários:

  1. Oi, Edu, tô de volta, passei para lhe deixar um abração. E agora, que li seu post, pra dizer que achei este seu texto comovente demais.

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  2. Ou este menino desiste de sua brincadeira diária e vira homem, se tornando mais um, só, no meio de muitos, ou ele olha à sua volta e cresce, às vezes só, criando balões de ar imaginários... Todos os balões do mundo, com todo o ar que tirou do seu peito, enquanto regressava ao seu mais perfeito esconderijo, o ventre materno... E assim, quando grande, passa a distribuir esses balões, em grandes festas de sentidos, aos que não podem respirar, aos sufocados por todas as imagens que um dia ele resolveu negar para sentir a força do que vem dele, de onde ele vem...

    Qual dos caminhos este menino seguirá depende de tantas coisas... Depende de tanta gente...

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Para não me deixar falando sozinho