sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aquele senhor

Calça social desbotada e camisa de botão manchada. Cabelo quase nenhum na testa, grudado na nuca. De suor ou creme? Todo arrumado, com elegância e bengala. Isso me emocionou, pensando na preparação para sair ao trabalho, na arrumação. Escolher entre as poucas roupas, uma que lhe desse um ar de respeito, de trabalhador, que lhe caísse bem e que fizesse as pessoas até pensarem em lhe ajudar.

Aquele senhor me lembrava meu avô. Se fosse ele a passar por entre os carros de vidros fechados, pedindo um trocado para sua fome? Naquela idade, aquele senhor não tem o que comer, não tem aposentadoria, não tem um boné para proteger sua cabeça do sol. Eu dentro do táxi com ar-condicionado, chorava e me envergonhava. De que? Sou culpado por etsar ali dentro? Sou o responsável por aquele senhor está ali fora? Queria colocá-lo dentro e levá-lo para casa. Que casa? Para que, meu filho? Para que, meu Deus?

Essa imagem não me saiu da cabeça. Aquele senhor recostado na parede da lanchonete, descansando à espera do sinal vermelho de um sinal verde que nunca o virá passar.

Cheguei em casa e no corredor do prédio o cheiro de comida gostosa me deu náusea.

3 comentários:

- Luli Facciolla - disse...

Chocante Edu...
Me emocionou...

Beijos

Bernardo Guimarães disse...

este é o edu que eu gosto de ler:cortante!

.prado disse...

Fico pensando que vivemos em um momento em que sabemos de tudo, temos conhecimento do passado, da historia, do que ja foi... e sabemos bastante do futuro, das respostas da natureza, dos problemas sociais e como vao se comportar daqui a pouco, da tecnologia e de toda a discrepancia que possa existir... e o momento nos cria o vácuo... somos culpados do que foi e do que vem? E oque é pior - ou melhor - nao vamos estar aqui para ver a resposta.